Pedro Tamen
Pedro Mario Alles Tamen (Lisboa, 01 de diciembre de 1934), es un poeta y traductor literario portugués.
Pedro Tamen estudió en la Facultad de Derecho de la Universidad de Lisboa, donde se graduó. Entre 1958 y 1975 fue director de la editorial Moraes y dirigió la Fundación Calouste Gulbenkian, de 1975 a 2000. Presidió el PEN Club Portugués (1987 - 1990) y fue miembro del consejo y presidente de la junta general de la Asociación Portuguesa de Escritores.
Obras
Poema para Todos os Dias (1956, poemas)
O Sangue, a Água e o Vinho (1958, poemas)
Escrito de Memória (1973, poemas)
Os Quarenta e Dois Sonetos (1973, poemas)
Horácio e Coriáceo (1981, livro)
Principio de Sol (1982, poemas)
Guião de Caronte (1997, livro)
Retábulo das Matérias (coleção de poemas 1956-2001, 2001)
Analogia e Dedos (2006, poemas, Prémio Literário Inês de Castro[2] e Prémio de Poesia Luís Miguel Nava)
Traducción de XOSÉ LOIS GARCÍA
LOS DÍAS
3
En aquel tiempo, vivir era la mejor cosa del mundo.
Cuando hacía sol todos veían
y los hombres eran niños más allá de los montes.
Era una planicie, grande como conviene a todas las planicies
y llana porque todo estaba en su sitio.
En aquel tiempo habíamos sido criados y éramos iguales a las
hierbas y a las flores.
Tú,
tan perfecta que era imposible no ser tú,
tan erguida como júbilo de golondrina,
tu estabas a mi lado, naturalmente fresca,
y no había motivos ni razones porque sabíamos todo.
Nuestra teología era el beso del niño más próximo
y el acostarnos en la tierra con hojas de la misma planta,
apacibles, limitados conscientes.
Mirando hacia arriba, el cielo se abría y todos los ángeles
venían a sentarse en el borde
y reían como nosotros con pequeñas carcajadas.
Yo cantaba canciones más bellas de lo que puedo expresar
y me oías en silencio y con ojos abiertos, exactamente como
a todos los sonidos.
LA SANGRE
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Mil veces hombre, mil veces grito,
mil veces hora en que, mil veces,
fue todo, de nuevo y para siempre, nacido y consumado.
Nosotros oímos el murmullo de la tierra:
en aquél día, la esperanza de su vientre,
la soledad difícil de las profundidades,
el raro espacio que se oculta bajo las rocas,
los restos que un cataclismo nos dejó
— giran al frente la Faz,
se volvieron sorprendidos, cuando de repente
un nuevo líquido los toco y recorrió
y trajo a la luz de la tierra; cuando, anunciado,
se produjo una lenta agitación, santa fecundación.
MUCHO MÁS QUE PLAYA
para Antonio Ramos Rosa
Ondea, asume, rememora,
abriga la espuma
con corazón disperso.
Una herida abierta
afirma y cede a la siembra temprana.
Completa, palpa, roza
tu cuerpo al cuerpo de ella,
de la ya llorada aunque viva muerte.
AHORA, ESTAR
9
La luz que viene de las piedras, de la intimidad de la piedra,
tu la coges, mujer, la distribuyes
tan generosa y a la ventana del mundo.
La sal del mar recorre tu lengua;
no están de más en ti las cosas demás.
Mejor que todo, el vuelo de los insectos,
la llave del momento en que comienza el canto
del ave o de la cigarra
— la mano que esto dirige con el mismo gesto hiere
la cuerda de lo que em ti hace acordar
los ojos densos de cada día uno solo.
¿Quién está salvando en esta respiración
boca a boca real con el universo?
13
Penetra libre el brazo totalmente abierto,
que yo a ti me entrego, acepto, te recibo,
cual solitario espera hechicero beso de grulla
y asciende y se vacía:
oh muerte.
Ni mal ni bien, ceniza penetración
en el pecho de servicio de este día.
Conmigo a quien me di yo doy,
confío la mano malo tenida,
la sonrisa entre puertas,
la voz no recordada.
En ti, mi Blanco, muerte,
yo deposito la vida.
OS DIAS
Naquele tempo, viver era a melhor coisa do mundo.
Quando nascia o sol as pessoas viam
e os homens eram crianças para além dos montes.
Era uma planície, grande como convém a todas as planícies
e plana porque tudo estava certo.
Naquele tempo tínhamos sido criados e éramos iguais às
ervas e às flores.
Tu,
tão perfeita que impossível não seres,
tão erguida como um riso de andorinha,
tu estavas ao meu lado, naturalmente fresca,
e não havia motivos nem razões porque sabíamos tudo.
A nossa teologia era o beijo da criança mais próxima
e o deitarmo-nos na terra como folhas da mesma planta,
gratos, reduzidos, conscientes.
Olhando para cima, o céu abria-se e todos os Anjos
vinham sentar-se no rebordo
e riam como nós pequenas gargalhadas.
Eu cantava canções mais belas do que não tendo palavras
e ouvias-me em silêncio e de olhos abertos, exatamente
como a todos os sons.
O SANGUE
10
Mil vezes homem, mil vezes grito,
mil vezes hora em que, mil vezes,
tudo foi , de novo e para sempre, nascido e consumado.
Nós ouvíamos o murmúrio da terra:
naquele dia, a esperança do seu ventre,
a solidão difícil das profundas,
o raro espaço que se oculta sob as rochas,
os restos que um cataclismo nos deixou
— viram de frente a Face,
voltaram-se surpresos, quando de súbito
um novo líquido os tocou e percorreu
e trouxe à luz da terra; quando, anunciado,
se perfez um lento marulhar, santa fecundação.
MUITO MAIS QUE PRAIA
para Antonio Ramos Rosa
Ondeia, assume, rememora,
abriga a espuma
em coração disperso.
Uma ferida aberta
afirma e cede à sementeira cedo.
Perfaz, tacteia, roça
teu corpo ao corpo dela,
da já chorada inda que viva morte.
AGORA, ESTAR
9
A luz que vem das pedras, do íntimo da pedra,
tu a colhes, mulher, a distribuis
tão generosa e à janela do mundo.
O sal do mar percorre a tua língua;
não são mais em ti as coisas mais.
Melhor que tudo, o vôo dos insectos,
o ritmo nocturno do girar dos bichos,
a chave do momento em que começa o canto
da ave ou da cigarra
— a mão que tal comanda no mesmo gesto fere
a corda do que em ti faz acordar
os olhos densos que cada dia um só.
Quem está salvando nesta respiração
boca a boca real com o universo?
13
Devassa livre o braço todo aberto,
que eu te me entrego, aceito, te recebo,
qual solitário espera mago iço de grou
e ascende e se esvazia:
ó morte.
Nem mal nem bem, cinza penetração
no peito de serviço nesse dia.
Comigo a quem me dei eu dou,
confio a mão mal tida,
o sorriso entre portas,
a voz irrecordada.
Em ti, meu banco, morte,
eu deposito a vida.
OS NAUTAS
Para a Maria Gabriel
Quando até sobre o tarde navegavam
a luz que dentro vinha sobrepunha
a lantejoula aguda de outro sol
ao passo opaco, idêntico, cercando
os braços intranquilos, a surpresa
que só de pressentida lhes doía.
Ao frio sal que sob os pés sentiam
e à escuridão mais fundo, ao sonolento
e bruto som da corda e da madeira,
às dores de fome e ao gemido fraco
duma saudade parda, à solidão
sem espelho, à gula insaciada, ao medo
— a tudo combatia uma paixão
neles tão nova, nevoenta outrora,
qual a de ver, de ver de olhos abertos
até sentir no roçagar dos dedos,
a mínima paisagem, mais total
que os montes lerdos, pátrios e trocados:
a crispação da vela, o peixe lento
de súbito surgindo, ignotas flores,
cores purulentas, vasto e escasso espaço
para estrídulos pássaros abertos
e outra vida mor,
e ainda bruma
que não sabem se é deste ou doutro sonho.
HERZOG
Sofrer é outro mau hábito.
(palavras de Ramona em Herzog, de Saul Bellow)
A minha desforra são palavras.
Levanto-me de manhã amarrotado
pelo peso inclemente das mentiras
e vazo no real outro real
das letras que ninguém vislumbrará.
O pássaro que canta é uma palavra,
é uma carta escrita a este, àquele,
que me saiu do lápis da amargura;
tudo se refaria se jamais feita fosse
alguma coisa que a minha mão não desse.
Desforro-me sem gosto. Desforro-me sem gasto,
acorrentado ao que me vem de trás
e ao que virá e que não sei se quero.
[in Analogia e Dedos, Oceanos, 2006]
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