ADRIANO ESPÍNOLA
Nasceu em Fortaleza (Brasil), em 1952. Professor de Literatura Brasileira na Universidade Federal do Ceará e professor-leitor na Université Stendhal-Grenoble III (1989-91). Autor de vários livros de poesia e de antologias em português e em inglês.
Traducciones de Eduardo Langagne
Las chinelas
Como um perro
suelto
el Sol súbito
salta
por la ventana
del nuevo
día.
Y ahí
de pie
de la cama
se enreda
en el viejo
par
de chinelas.
EL CLAVO
Lo que
más duele
no es
el retrato
en la pared
sino
el clavo
ahí
clavado
persistente
en el centro
de la
mancha
del cuadro
ausente.
Poemas extraídos de ALFORJA – REVISTA DE POESÍA, México, n; XIX, Invierno 2001, que edita el poeta José Ángel Leyva. Parte de una edición especial dedicada a la poesía brasileña, organizada por Floriano Martins.
FALA, FAVELA
VOILÀ FAVELA
2ª edição
Traduit du Portugais (Brésilien)
par Silvia Rouquier
Rio de Janeiro: Topbooks, 1998.
123 P ISBN 85-86020-85-6
Editado com o apoio da Fund. Biblioteca Nacional
POEMA VERTEBRAL
— Uma bala dentro do corpo,
eis minha casa.
Uma bala loteando a espinha,
eis meu espaço.
Uma bala habitando a fala,
eis minha sala.
Uma bala guardada nos gestos,
eis meu armário.
Uma bala varando o sono,
eis o meu quarto.
Uma bala na viga dos braços,
eis meu terraço.
Uma bala plantada no tempo,
eis meu quintal.
Uma bala posseira da fome,
eis minha paga.
LÍNGUA-MAR
A língua em que navego, marinheiro,
na proa das vogais e consoantes,
é a que me chega em ondas incessantes
à praia deste poema aventureiro.
É a língua portuguesa, a que primeiro
transpôs o abismo e as dores velejantes,
no mistério das águas mais distantes,
e que agora me banha por inteiro.
Língua de sol, espuma e maresia,
que a nau dos sonhadores-navegantes
atravessa a caminho dos instantes,
cruzando o Bojador de cada dia.
Ó língua-mar , viajando em todos nós.
No teu sal, singra errante a minha voz.
O JANGADEIRO
Jangadas amarelas, azuis, brancas,
logo invadem o verde mar bravio,
o mesmo que Iracema, em arrepio,
sentiu banhar de sonho as suas ancas.
Que importa a lenda, ao longe, na história,
se elas cruzam, ligeiras, nesse instante,
o horizonte esticado da memória,
tornando o que se vê mito incessante?
As velas vão e voltam, incontidas,
sobre as ondas (do tempo). O jangadeiro
repete antigos gestos de outras vidas
feitas de sal e sonho verdadeiro.
Qual Ulisses, buscando, repentino,
a sua ilha, o seu rosto e o seu destino.
AS DUNAS
Tu, hora, revoas nas dunas.
Paul Celan
Avançam,
sorrateiras,
tangidas pela mão simétrica
do vento.
A luz da manhã sobre elas
escorre
como ondas na maré
cheia.
Verdevivos,
os arbustos se agarram
em desespero
à alva memória da areia.
Ali,
as dunas espreitam a cidade
— o bote de areia armado —
à espera do tempo.
Tácitas,
levam nas costas,
esvoaçante,
o presente;
nos peitos, o passado
semovente.
A VELHA
Esculpida em silêncio,
sentada
e sábia,
fita o horizonte da mágoa.
Ao lado,
o mar murmura
as sílabas do ocaso.
Ó beleza antiga e súbita:
sobre seu ombro
o instante
se debruça, iluminado.
A RENDEIRA
Na teia da manhã que se desvela,
a rendeira compõe seu labirinto,
movendo sem saber e por instinto
a rede dos instantes numa tela.
Ponto a ponto, paciente, tenta ela
traçar no branco linho mais distinto
a trama de um desenho tão sucinto
como a jornada humana se revela.
Em frente, o mar desfia a eternidade
noutra tela de espuma e esquecimento
enquanto, estrelaçado, o pensamento
costura sobre o sonho a realidade.
Em que perdida tela mais extrema
foi tecida a rendeira e este poema?
FORTALEZA REVISITED
Sou outro
em mim,
memória
da cidade,
que se sonha
outra vez
na claridade.
Extraídos de 41 POETAS DO RIO, org, Moacyr Félix. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1998. 514 p.
Lo que
más duele
no es
el retrato
en la pared
sino
el clavo
ahí
clavado
persistente
en el centro
de la
mancha
del cuadro
ausente.
Poemas extraídos de ALFORJA – REVISTA DE POESÍA, México, n; XIX, Invierno 2001, que edita el poeta José Ángel Leyva. Parte de una edición especial dedicada a la poesía brasileña, organizada por Floriano Martins.
FALA, FAVELA
VOILÀ FAVELA
2ª edição
Traduit du Portugais (Brésilien)
par Silvia Rouquier
Rio de Janeiro: Topbooks, 1998.
123 P ISBN 85-86020-85-6
Editado com o apoio da Fund. Biblioteca Nacional
POEMA VERTEBRAL
— Uma bala dentro do corpo,
eis minha casa.
Uma bala loteando a espinha,
eis meu espaço.
Uma bala habitando a fala,
eis minha sala.
Uma bala guardada nos gestos,
eis meu armário.
Uma bala varando o sono,
eis o meu quarto.
Uma bala na viga dos braços,
eis meu terraço.
Uma bala plantada no tempo,
eis meu quintal.
Uma bala posseira da fome,
eis minha paga.
LÍNGUA-MAR
A língua em que navego, marinheiro,
na proa das vogais e consoantes,
é a que me chega em ondas incessantes
à praia deste poema aventureiro.
É a língua portuguesa, a que primeiro
transpôs o abismo e as dores velejantes,
no mistério das águas mais distantes,
e que agora me banha por inteiro.
Língua de sol, espuma e maresia,
que a nau dos sonhadores-navegantes
atravessa a caminho dos instantes,
cruzando o Bojador de cada dia.
Ó língua-mar , viajando em todos nós.
No teu sal, singra errante a minha voz.
O JANGADEIRO
Jangadas amarelas, azuis, brancas,
logo invadem o verde mar bravio,
o mesmo que Iracema, em arrepio,
sentiu banhar de sonho as suas ancas.
Que importa a lenda, ao longe, na história,
se elas cruzam, ligeiras, nesse instante,
o horizonte esticado da memória,
tornando o que se vê mito incessante?
As velas vão e voltam, incontidas,
sobre as ondas (do tempo). O jangadeiro
repete antigos gestos de outras vidas
feitas de sal e sonho verdadeiro.
Qual Ulisses, buscando, repentino,
a sua ilha, o seu rosto e o seu destino.
AS DUNAS
Tu, hora, revoas nas dunas.
Paul Celan
Avançam,
sorrateiras,
tangidas pela mão simétrica
do vento.
A luz da manhã sobre elas
escorre
como ondas na maré
cheia.
Verdevivos,
os arbustos se agarram
em desespero
à alva memória da areia.
Ali,
as dunas espreitam a cidade
— o bote de areia armado —
à espera do tempo.
Tácitas,
levam nas costas,
esvoaçante,
o presente;
nos peitos, o passado
semovente.
A VELHA
Esculpida em silêncio,
sentada
e sábia,
fita o horizonte da mágoa.
Ao lado,
o mar murmura
as sílabas do ocaso.
Ó beleza antiga e súbita:
sobre seu ombro
o instante
se debruça, iluminado.
A RENDEIRA
Na teia da manhã que se desvela,
a rendeira compõe seu labirinto,
movendo sem saber e por instinto
a rede dos instantes numa tela.
Ponto a ponto, paciente, tenta ela
traçar no branco linho mais distinto
a trama de um desenho tão sucinto
como a jornada humana se revela.
Em frente, o mar desfia a eternidade
noutra tela de espuma e esquecimento
enquanto, estrelaçado, o pensamento
costura sobre o sonho a realidade.
Em que perdida tela mais extrema
foi tecida a rendeira e este poema?
FORTALEZA REVISITED
Sou outro
em mim,
memória
da cidade,
que se sonha
outra vez
na claridade.
Extraídos de 41 POETAS DO RIO, org, Moacyr Félix. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1998. 514 p.
No hay comentarios:
Publicar un comentario