LUCÍA AIZIM
(1915-2006)
Lucía Aizim nació en Ucrania en 1915. En 1919, su madre emigró a Brasil acompañado de dos hijas, Lucía y Luba. Llegó a la ciudad de Río de Janeiro, donde vivian sus padres.
Se graduó de la Escuela Superior de Comercio Cândido Mendes, trabajó unos años, se casó y luego se dedicó a la familia para publicar su primer libro de poesía en 1974. Murió en 2006.
Linaje
Yo, allí.
Entre la aurora y la noche
La luz y las tinieblas
desde el primer día.
Hay todo un linaje espiándome
espiando mis pasos.
No importa dónde vaya
por ciudades, aldeas, mares
llevo conmigo sus voces,
sus vestidos, sus pesares.
A veces sus alegrías, también.
Voces ancestrales: imploran, ordenan
No nos dejen en el olvido.
Salida de su desierto la multitud.
Entre ellos, ahí estaba yo.
Yo allí.
Estaba entre la aurora
y la noche, la luz y las tinieblas,
desde el primer día.
Cuando de la nada fueron creados
las aves y las aguas, el aire y las aguas.
He aquí cuando el Eterno encendió
las estrellas del cielo. Yo estaba ahí.
Hay todo un linaje espiándome
hace siglos, milenios.
Hija de la cepa de los profetas
familia de pastores.
Publicado en Noaj: revista literaria de la Asociación Internacional de Escritores Judíos en Lengua Hispana y Portuguesa, Nº 16-17 julio 2007
Traducido del portugués por Myriam Rozenberg
Lucia Aizim: a poesia da Errância
Fragmentos
I
Há palavras tão simples
que ninguém reconheceria
a não ser quem em silêncio
as visse transitando
da simplicidade
para o seu mistério.
II
Também havia o amor
que nunca chegou a ser amor.
Não porque não tivesse sido bastante.
Mas porque não ousáramos nomeá-lo.
Mistério
Ao longe de casas
que não são casas
Mas sórdidos e sujos
cantos onde se mora.
Nasce o poeta
E no entanto
há qualquer coisa
irreal, quase.
Contra a pedra da soleira
o lápis calca duramente
- o poema primeiro.
Grito
De dentro
das vísceras
flor encarnada.
Evola-se o grito.
Como se já
não fora
grito
mas uma ferida.
Que se abrisse
toda.
Chovem juntas
de igual natureza
a água da chuva
e minha tristeza.
Chovem iguais –
sem esperança alguma.
Não sei de que vaus
por um rosto, bruma.
Chove.
Ou não chove.
A ninguém já importa.
Mais e mais
habita-me a vida
em terra morta.
Dispersão
Dispersaram meus mortos.
Uns para um lado. Outros
para o outro extremo do mundo.
Agora talvez habitem a zona das auroras.
Através do tempo ficou apenas
um cálice, restos esfiapados
de finíssima trama, tecida
por mãos ignoradas
e algumas máquinas encalhadas de guerra.
Emprestaram-me
um bastão quebrado.
E nômade,
indicaram-me o caminho das estrelas.
Duras palavras
pairam no ar.
Todo o dia as espano.
Uma mulher não deve permitir
que teias de aranha
obscureçam seu coração.
Prelúdio
O que a mão não gravou.
O que por dúbio, o tempo
não trouxe.
O que o amor não fruiu.
Esquece.
Não há modos
de fazer retornar
tudo isso.
As coisas se chamam nunca mais.
Um dia é simplesmente um dia.
Mesmo que sobre seu fundo branco
escorra tinta azul.
Certamente,
as coisas jamais crescerão
além dos seus próprios limites.
Certamente,
jamais serei uma só gota
daquilo que chamamos mar.
Sou apenas a sombra de alguém
que imagina tanger o largo
rebanho das ondas.
Mas que sequer alcança
uma única linha, que transborda,
de sua mão.
Súplica
Sobre as ruínas.
A ave (em pleno vôo)
arremessa uma semente.
Deus, dai-me
coragem bastante
para que a aceite.
tal como é, semente apenas.
Ah, quem mo dera!
Quem dera ter
o Tejo, o Capibaribe,
um rio que fosse meu.
Não este mar revolto
onde jazem sepultos
mastros, galeras, naus e ventos.
Quem dera um rio
que fosse meu
desde sempre.
Quase nome de parente
de tão íntimo
- riozinho.
Era domingo
quando sentiu o chão
faltar-lhe sob os pés.
Era domingo
quando ele chegou
e sem recolher a bandeira
- do despotismo
que o acompanhava.
Atirou uma nuvem
de serpentes
aos quatro ventos.
Então, ela baixou os postigos;
que os vizinhos não vissem
nem ouvissem aquilo.
Deixou passar horas.
Até que o tempo lhe restituísse
alguma dignidade.
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