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sábado, 1 de diciembre de 2012

RUY VENTURA [8715]





Ruy Ventura
(Portalegre, Portugal, 1973) tiene una maestría en Estudios Portugueses (Literatura Portuguesa Contemporánea) por la Universidade Nova de Lisboa. Ha sido docente de la Escola Superior de Educação de Portalegre y de otras instituciones.
Su primer poemario, Arquitectura do Silêncio (Difel, 2000), fue Premio Revelación de la Asociación Portuguesa de Escritores en 1997. Desde entonces ha publicado Sete capítulos do mundo (Black Sun, 2003); Assim se deixa uma casa – Así se deja una casa (Alma Azul, 2003; con prólogo y traducción al español de Antonio Sáez Delgado); Um pouco mais sobre a cidade (Porticus, 2004; trad. esp. Antonio Sáez Delgado); O lugar, a imagem – El lugar, la imagen (Editora Regional de Extremadura, 2006; trad. esp. Antonio Sáez Delgado); Chave de ignição (Labirinto, 2009) e Instrumentos de sopro (Edições Sempre-emPé, 2010).
Ha coordinado varias antologías y libros y ha traducido 20 Poetas Espanhóis do Século XX (Alma Azul, 2003); Dias, Fumo, de Antonio Sáez Delgado (Alma Azul, 2003); Jola, de Ángel Campos Pámpano (Badajoz, 2003); A Árvoredas-Borboletas, de Anton van Wilderode (Fundación Academia Europea de Yuste, 2003) y Teorias da Ordem, de José María Cumbreño (Edições Sempre-em-Pé, 2009).
Es colaborador de varias revistas portuguesas y españolas, brasileñas y americanas. Poemas y libros suyos están traducidos al español, francés, inglés y alemán. Como ensayista ha escrito sobre poesía contemporánea, literatura tradicional y oral y toponimia.





MEMORIA

oigo mal el sonido del laúd en tu casa.
no puedo ver la paloma
que vuela sobre la ceniza,
en el sepulcro de la ruina y de este alma.
he exhumado con los ojos
el mosaico que rodeaba, quizá, a ese corazón
–sumergido en el agua y la melodía.
siglos después, encuentro ese rostro
tan pronto escondido.
dibujado en el mármol.
como en una fotografía.
esa sonrisa excavando la penumbra de la nave
la iluminación de las lágrimas
en el interior del cristal.

(De El lugar, la imagen. Traducción de Antonio 
Sáez Delgado)




MEMÓRIA
mal oiço o som do alaúde em tua casa.
não consigo ver a pomba
voando sobre a cinza,
no sepulcro da ruína e desta alma.
exumei com os olhos
o mosaico que rodeava, talvez, esse coração
– mergulhado na água e na melodia.
séculos depois, encontro esse rosto
tão cedo escondido.
desenhado no mármore.
como numa fotografia.
esse sorriso escavando a penumbra da nave –
a iluminação das lágrimas
no interior do vidro.




[de Stefan Zweig, en mitad del Atlántico]

arde la lengua. quemando
corazón, venas y células.
entre dos árboles, la cuerda
que aprieta la garganta. disuelve el anillo y la saliva —
esa melodía 
en el interior del drago.

siempre de negro, se propaga el incendio.
sube la escalera, coloca en los ojos esa espada.
arde la lengua. deja entre las cenizas
vestigios de sombra. nada más encuentro
entre los escombros. antes del derrocamiento
llevo lejos la última gota de sangre.
la saliva repleta la desesperación,
el soplo del océano.

me quedo a este lado, junto al miedo.
intento salvar la última frontera.
en la falda de la montaña dejé este libro.
consigo leer. los símbolos,
con todo, tienen poca nitidez —
incluso cuando los entiendo.

arde la lengua. los acompaña la llama
en este infierno. la llama deshace
los huesos y el cabello, el anillo
y la melodía donde navegar procuro.

¿de qué sirve cruzar el horizonte
si la ceniza guarda frutos y palabras?

se propaga el incendio
de este lado del océano. la sal lava el cuerpo
y el lenguaje. el fuego devora la distancia.
este fuego

encuentra en el corazón
(¿en la tierra?)
esa ave nacida al inicio.

Traducción: Ángel Gómez Espada





[de Stefan Zweig, a meio do Atlântico]

a língua arde. queima 
o coração, as veias, as células. 
entre duas árvores, a corda 
aperta a garganta. dissolve o anel e a saliva — 
essa melodia 
no interior do dragoeiro.

o incêndio alastra, sempre de negro. 
sobe a escada, coloca sobre os olhos essa espada. 
a língua arde. deixa entre as cinzas 
vestígios de sombra. nada mais encontro 
entre os escombros. antes da derrocada 
levo para longe a última gota de sangue. 
a saliva preenche o desespero, 
o sopro do oceano.

fico deste lado, junto do medo. 
tento salvar a última fronteira. 
deixei este livro no sopé da montanha. 
consigo ler. os símbolos 
contudo têm pouca nitidez —  
mesmo quando os entendo.

a língua arde. a flama acompanha-nos 
neste forno. a chama desfaz 
os ossos e o cabelo, o anel 
e a melodia onde tento navegar.

de que vale cruzar o horizonte 
quando a cinza guarda rebentos e palavras?

o incêndio alastra 
deste lado do oceano. o sal lava o corpo 
e a linguagem. o fogo devora a distância. 
este fogo

encontra no coração 
(na terra?) 
essa ave nascida no início.







[de Zénon p/ Marguerite Yourcenar]

não existe passagem.
nesta barca dissolverei
a parte branca do caminho
no forno que hoje regressa
à temperatura do teu corpo.
em que tear irei tecer de novo o horizonte?
percorro a mina, o fogo e a fogueira.
encontro no odor do campo
um pouco de saliva.
a cicatriz permanece
apesar do nome.
a ferida corrói a alma.

respiro o sopro do oriente.
transfiguro o ouro em madeira –
como essa flor que nasce na lanterna.
atravessarei a ponte
pela última vez
sem ver que a água reflecte
um rosto estranho.
nada reconheço na paisagem e no medo.
apenas o calor no cume da montanha.

o sereno acorda-nos.
em que século ficou
a última página
desta língua que enegrece?
a saliva congela.
percorro a mina, o fogo.
encontro a fogueira.
não existe passagem.
a barca apodrece.


[de Hans Castorp p/ António Nobre]

iluminei os teus passos, o cemitério
(longe da cidade, entre rochedos,
lágrimas e uma pequena alegria)
uma ferida no olhar
tão longa quanto a neve
modelando o caminho que percorremos.

a respiração acolhe-nos.
o navio, ao longe, dissolve
o ouro e a madeira apodrecida.
nada vislumbramos nas duas esferas.
o pó e o frio guardam esta monotonia eterna.
à superfície, esse verde dos prados
dissolve o sangue, abandona os pulmões,
a voz, a garganta (ligeiramente trémula),
a varanda – e este sopro na circulação.

falar em luto iria embelezar as coisas
dizes olhando de longe o teu irmão.

o mundo recolhe esta tristeza.
dentro do gelo –
um insecto minúsculo
que o tempo resguardou
como vestígio da última morte na floresta.
a chuva incendeia o baile,
essa dança ardendo no interior da casa.

uma palavra: o movimento.
a circulação do sangue
espargindo a montanha.


[de Wradislaw Szpielman p/ Roman Polanski]

aguardo na sombra o sangue.
em ruínas, guardo sombras e palavras –
o verde dessa melodia
e algumas vozes cantando.
recolho, na síntese deste corpo,
a estrada, os teus olhos
vigiando a cidade.
respiro a pólvora. desfaço
entre os dedos este muro,
a linha do comboio
transportando as raízes desta árvore.

a madeira seca. a seiva
desce este caminho, a cinza
desse caminho
sem passos, sem memória.
procuro a voz e o alimento,
a semente (a cinza?)
que nos dedos germina.
na sombra e na saudade.
aguardo o sangue (a morte?),
esta memória. a pedra e a cal
reconhecem a secura
da pele
em ruínas.
os músculos vencem a febre e a cinza.
o pilar subsiste
no centro da avenida.

este corpo nasce
como um rebento
entre duas raízes.


[de H. P. Lovecraft p/ o tradutor d’ “Os Fungos de Yuggoth”]

agitada pelo vento, a torre.
um grito na montanha.
uma porta, tão longe do universo.
este livro onde desfaço o mundo.
séculos e séculos, alimentando-me deste gelo.

dissolvo a pele, os ossos, o sangue.
nesta caverna, recomponho o rosto.
coso memórias e desesperos,
angústias e espantos. mesmo quando sonhava
ia apenas revendo aquele prado antigo
rodeado por um pano de muralhas,
velando uma parte desse deserto.

uma porta. aberta para que lado?
o frio conserva este corpo
em agonia. a mão acaricia esta ferida.
a cicatriz tarda em aparecer.
ao longo das margens, a noite
vai caindo. a rua arde. dissolve
nesta água a habitação do tempo.

agitada pelo vento, a torre
separa-nos do abismo.

um sinal na pedra. aquela porta –
sinuoso caminho
no labirinto do medo.


[de Casaubon p/ Umberto Eco]

a beleza da colina
dissolve no sangue as raízes do medo.

noutra ordem, as células
misturam no cérebro
o tempo e a ilusão do tempo,
matéria e aparência de matéria
– que uma legenda corrompida
codifica na memória.

a prumo sobre a terra,
o segredo preenche o vazio dos ossos.
ele próprio vazio, governa
o alimento e a viagem
por esse vale onde a pedra
sustenta a contemplação
das vísceras do mundo.

ouro e excrementos
mantêm de pé o edifício.
mesmo falso, o observatório
devolve-nos uma imagem
de família, traços e formas
num rosto perdido há tantos anos.

legítima, a incerteza
dissolve na sombra as raízes do medo.
a vida conserva-nos sem matéria.
existimos sem eixo, sem prumo –

procurando em qualquer lugar
a gravidade que nos liberte
e faça renascer das cinzas.


[de Orlando p/ Virginia Woolf]

destruo o tempo para que o espaço me revele –
para que o espaço se revele
enquanto um corpo (feito de palavras?)
modifica a estrutura da matéria. a carne e a madeira

dispõem de outro modo moléculas e memórias.
vulva e tecidos cavernosos, um carvalho
e uma criptoméria, vínculos e outros tecidos mecânicos
são talvez capítulos ou estrofes de um texto ininterrupto
em que o vinho e a tinta registam
fatias de lembrança transmitidas pela seiva
de uma raiz com vista para um território sem limites.

cópula e nascimento dissolvem-se
no palimpsesto das células. a voz
responde a outras vozes (de dentro? de fora?).

o vórtice revela espaços sobrepostos.
o tempo rebenta. espalha sobre o homem
estilhaços que nenhum cirurgião
poderá retirar.


[de Luiz Pacheco p/ os seus abutres]

do escarro e do mijo não reza a história do mundo.
da esporra há ténues vislumbres
entre os dentes de uma narrativa
cujas pernas se abrem a qualquer membro sem sombra.
o sarro permanece no copo
por onde bebemos o último vinho.
(deixou nódoas nas paredes e no tecto da casa
que nem várias camadas de tinta conseguiram ocultar.

a merda, mesmo limpa, continuará sendo merda.
não vale a pena escondê-lo.)

é preciso descalçar
as frases, mesmo que os pés sejam feios.
mostrar a trampa
que cobre uma parte do mundo, os ossos
(mordidos pelos cães?) que alguém lançou no carneiro.

e, no entanto, há luz no meio do entulho: livros
colocados numa mão incerta
cuja humidade permite o nascimento
de fungos e, mais tarde, de pequenas plantas
(haverá por ali um grão de mostarda
ou outra semente cuja árvore um dia reconheceremos?)
livros – e tecidos impuros
com húmus e estrume
no meio da batalha.

fósforo e amónio não fertilizam
a linguagem. só um estrume ácido
(ou a acumulação de matéria orgânica sobre o solo)
dá garantias de crescimento.

mesmo que no teatro da existência escolhamos
vestes apodrecidas – e o cheiro da flatulência e dos excrementos
afaste a multidão
(tão tarde vos chegastes, quando a minha carne
trazia apenas um odor que vos agradava)
são essas as palavras que interessam
descobertas, com paciência, entre
quilos e quilos de trampa.




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