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viernes, 29 de agosto de 2014

MARILIA KUBOTA [11.039]


MARILIA KUBOTA

(Paranaguá / PR, BRASIL 1964) es escritora, poeta y periodista. 

En 2010, organizó la antología en Brasil - Literatura Mixta, que recibió un premio Nikkei de Literatura en 2011. En 2008, organizó el Concurso de Haiku Nempuku. En 2009, se convirtió en editora del periódico y web de las Artes y las Letras japonesas. Máster en Estudios literarios UFPR, donde estudió narrativas japonesas

(Paranaguá/PR, BRASIL 1964) é escritora e jornalista. Participou dos livros Pindorama (2000), Passagens (2002), 8 Femmes (2007), Antologia da Poesia Brasileira do Início do Terceiro Milénio (2008), Selva de Sentidos (2008, Água- forte edições), Blablablogue (2009) e Todo Começo é Involuntário - Poesia Brasileira no Início do Século 21 (2011).
Em 2010, organizou a antologia Retratos Japoneses no Brasil - Literatura Mestiça, que recebeu um Prêmio Nikkei de Literatura em 2011. Em 2008, organizou o Concurso de Haicai Nempuku Saco. Em 2009, passou a ser editora do MEMAI- jornal e site de Letras e Artes Japonesas. É mestre em estudos literários pela UFPR, onde estudou as narrativas japonesas de




tsé=tsé


[Traducciones de R.J., revisadas por M.K.]
Extraído de la revista tsé=tsé
7/8 otoño 200
Buenos Aires, Argentina
tsé=tsé




metamorfosis

bajo la casa descascarada
la lagarta de la seda
redondea la redoma
y sueña alas

la sombra del luto
anuncia:
breve, aquí,
pero un fruto
de la metamorfosis.







metamorfose

sob a casa descascada
a lagarta da seda
arredonda a redoma
e sonha asas.

a sombra do luto
anuncia:
breve, aqui, mais um fruto
da metamorfose





inmensidad

escalar montañas
que sólo el silencio influencia
reencontrar en las primeiras cavernas
vestigios de eternidades antiguas
descubrir nuevos sentido y límite
mas allá de sombras conocidas
buscar sueños que, un día,
fueron más que viento:
alimento que la boca quería






imensidão

escalar montanhas
que só o silêncio influencia
reencontrar nas primeiras cavernas
vestígios de eternidades antigas
descobrir novos sentido e limite
além de sombras conhecidas
buscar sonhos que, um dia,
foram mais que vento:
alimento que a boca queria





selva de sentidos

un soplo súbito: alas en los lábios
abiertos de la flor. el pico sorbe
nubes de pétalos de mata
en el cielo incoloro

seda estremece sordo vuelo.
el sol veloz empapa luz.
la criatura en el jardín
asiste seria al curso.

un temblor leve aparta el picaflor.
el cuarto oscuro genera el grito
- ¡ entra ! la mañana cierra
las cortinas al público.
  




selva de sentidos

um sopro súbito: asas nos lábios
abertos daflor. o bico sorve
nuvens de pétalas de veludo
no céu incolor.

seda estremece surdo vôo.
o sol veloz empapa luz.
a criança no jardim
assiste séria o curso.

um tremor leve afasta o beija-flor.
o quarto escuro gera o grito
- entre ! a manhã cerra
as cortinas ao público.











Solidão. 

Tu tens o meu nome
Encerrado em teu baú.
Sabes que meu olhar é baço
Como a vidraça espancada pela chuva.
Envolta no lençol branco do silêncio
A chama da vela apaga aos poucos
E a imagem do Outro
Funde-se ao Nada





Kitchen

Acordamos um dentro do outro.
Não diga que apenas o idiota
Cobiça cordões de sapato e castiçais de ferro
Eu também,
E não nasci ontem.
Trouxe cinco pés de vento
Para desmanchar caracóis
De cabelo anjinho
Conheço os caminhos de seu corpo
Mais que as ruas da cidade
Quantos verões assassinados
Sem uma gota d'água
Na garganta seca





Ofélia

O meu eu foi escavado
Em seus olhos noturnos

Turno após turno
Galerias sufocantes

Abrir o quanto antes
O céu sonhado

Na pupila da papoula
Na papada do gigante






Fogo

Um circo inteiro traz o homem-bala
Quando pergunto se tem fogo.
Elefantes dançando polca
Formigas escrevendo aramaico
E a família de equilibristas chineses !
Só fogo não tem.
Vou embora olhando estrelas furtivas
Nos buracos de lona do circo






Ascese

Subi contigo a escada,
Que diziam, levava ao céu.
Subi de mãos dadas.
Fechei os olhos. Chuvas de flores miúdas
Arranhavam o rosto. Chorei de dor.
Abri os olhos ---  percevejos de lata
Agarravam o cabelo e o vestido.
Você ria, ria, ria,
Enlouquecido !
Queria fugir. Seus dedos estrangulavam os meus
Sua boca púrpura despejava encantamentos
Para chegar ao topo mais rápido.
Da escada rolavam mulheres crianças homens
Estúpidos para escalar os degraus
Esmagados pela fúria dos que, como nós, subiam
Sem parar  nem olhar o que ficou atrás.
Você ria, ria, ria,
Do ataque da esquadrilha de máquinas de costura
E de bibliotecas com alfabetos emaranhados.
O céu mais azul suicida lembrava o azul silencioso
Do mar sepultado lá embaixo
Você nem viu quando as raposas rasgaram meus olhos
E de dentro de meu peito tiraram o coração
Ria, ria, ria,
Carregando a boneca de trapo pro alto da escada brilhante






Perfume de Flores Perdido

Certo, seus olhos guardam
uma vela menor dentro de velas que derreteram
enquanto os santos partiram em férias

Certo, o rancor é uma flor 
cultivada em concha como pérola 
Mergulhadores saltam para o abismo
tateando sais que fustigam a sede no mar profundo
Ostras devoram os membros
indecisos

Certo. Deixe seus pés seguirem o perfume
sem perguntar onde







Viagem

Eu viajei e
deixei uma casa com
cortinas e tapetes flutuantes
atrás

eu viajei e vi
as mesmas coisas
as pessoas
as mesmas
gelatinas espessas entre eu e elas
vi espetáculos da natureza
a paisagem sonho
e dedos trêmulos na fotografia

vi bem perto a lava vulcânica
lamber meus pés 
no pico da montanha mais fria o sorvete
aquecendo meu nariz
perdi de bobagem
o clique mágico da eternidade
um cisco no foco da câmera
abriu uma cratera em meu crânio
e caí no deserto

vi homens de quatro
lixando o chão com a língua para os chefes
olhos esmagados fora dentro ovos estrelados
num céu jamais visitado
vi um coração humano
despejado no lixo
entre pacotes de sopa vidros de remédio talões de cheque
um livro queimado e rasgado
cheio de palavras que amei
quando vivia

Silêncio

A igreja é uma nave
Sou um filhote de pássaro
entrando no ventre da mãe

Ninguém vê fico na praça bebendo
Ninguém vê agora a igreja sem missa
A  Virgem miolos amolecidos pela auréola 

A cabeça não pensa mais
Só nuvens

Borboletas saem do ventre da santa
carregam o corpo

Vão embora
Só eu pensando

- Pra onde ?







Desejo

Criptas e criptas
encostas nas fontes
chamas derrubando jardins
reis vendidos em leilão

Diga este mundo se foi

prédios intermináveis
louças reluzentes vitrines
jaulas de agonia
cobiça pela fome

Diga este mundo não há

verde  branco  janelas cerradas
naves pousando na praça
corpos estelares
olhos presos

Diga: só este







Fogo Branco

Seus olhos despencam das nuvens
e perdem o brilho ao ver o aterro

lá em cima o azul no céu azul 

aqui embaixo a fome busca sangue 
nas montanhas de lata, papel, plástico

o super-homem fura a barreira do som

humanos de menos chupam agulhas usadas
e bebem gotas de xarope com mosca

(você que tem um coração monstro)

lá em cima, olhos azuis de gelo
começam a derreter, turvar, gorar

aqui embaixo alguém canta um hino



Voar mais alto e longe
do espelho que fabrica o mundo
Os teares continuam estalando
A barbárie foge do escândalo

Voar mais alto e fundo 
a superfície dissolvida da psique
sem truque ou recalque, sem luvas e alívios
cada vez mais perto do silêncio

que cai no chão com um estrondo


Não hesite o instante
em que só o eu existe
Percebe o momento
em que a porta abre

Antes que feche
a passagem a pálpebra 
dissolve as nuvens 
que cobrem  tua janela 

e parte


Há tempos
estou olhando
um canto obscuro da mente
Nenhum pedacinho do céu
Apareceu na minha frente
Ou arrastou a asa
Na casa escura
Não sei quanto mais
Vou ficar sob a montanha
De nuvens de pensamentos
Sei que a luz se acende
De repente
E preciso ficar acordada






(cut-up)

Eu suspendo as tantas pernas
que um salto toca o bico
de um jato em pleno vôo
sou um inseto e, desculpe, te amo

Te possuo quando não vês
teus grandes dedos plásticos
envolvem meu cabelo verde escuro
tua mão surge da noite atroz

Ouça me
Sou luz, escuridão,
Meu nome é vida, morte,
Mundo, sem nome,
certa música adivinhada,
nunca escutada,
sal, silêncio, 
amor, nada,
onda.


Quanto mais escuro
mais eu vejo

no espelho do oceano
brilha a lua

branca e iluminada
a laje da sepultura







Exercício Secreto

Para que, para que o céu se move
sem que ninguém perceba. Nossos olhos
não astrônomos têm pálpebras coladas
em paisagens de papel e vidro.

Para que cuidar de jardins
jamais  vistos como os que
as flores vibram e morrem ?

Para que a vida
existe e passa :
e só aqui que se vive,
só aqui. Depois tudo passa. E cessa?







Canção de Hong Kong 

O céu repartido em duas metades desiguais.
Pão para os mortos – há pão para os mortos ?
Sim, há fome no céu. É preciso distrair os famintos com danças
Para que os demônios não queimem as casas da ilha.
Disfarçar o terror sob a máscara da maquiagem
E a cantoria lamuriosa da ópera
Enquanto crianças tristes flutuam nos carros alegóricos,
Nenhum morto estilará de saudade.
(Te amo...sussurro. Te amo. Adeus)


Sem que ninguém perceba o sol
entra vermelho no quarto
trazendo sorrateiro
perfume de hortênsias
o enfermo pede gole d' água
ao abrir os olhos vê
pombas brancas nos chapeuzinhos de enfermeiras


um corpo estranho
se jogou contra mim

enquanto os olhos fugiam
um pra cada lado
a chuva acordava
o peixe que se desembrulhava do jornal
sob braços duros e soporíferos.

o peixe deslizou das poças de chuva
até o rio mais próximo

meus olhos não bastante tortos
para possuir um morto








Casa do Sol

O jardim seco. E a dama bebe
após as sete.

Acorda às onze. Lê jornais. “Falam de mim?”
Telefona a Deus e todo mundo.
“Ninguém liga.”

Confessa ao hóspede,
tem pena de parede
e cachorro de rua
(em sua cama dormem seis).

A criada guarda espingarda e pólvora
(prevenida contra intrusos),
embora a dama saia à meia-noite
pedindo na estrada que a levem.

Alguém disse que seu coração é seco
como o jardim. E a dama bebe
após as sete.



Dias de chuva, dias de só
Ver rodas brilhantes girando no asfalto
– e no alto braceletes de flores brancas, repolhudas, altivas e frágeis,
Despedaçadas pelo vento, pela água e pelo sol. 



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