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martes, 2 de julio de 2013

HILDEBERTO BARBOSA FILHO [10.213]


HILDEBERTO BARBOSA FILHO
Nacido en Aroeira, Paraíba, BRASIL en 1954. Licenciado en Derecho y Literatura, Maestro y Doctor en Literatura por la Universidad Federal de Paraíba, Brasil, donde es profesor de Comunicación Social. Poeta y crítico literario. 

Ha publicado varios libros de poesía: 

A comarca das pedras (1977), São teus estes boleros (1992), O exílio dos dias (1994), Ofertório dos bens naturais (1998) e Caligrafia das léguas (1999).




CUMPLEAÑOS

Para Ascendino Leite


Donde caminé,
llevé conmigo mi Vale.

Ni la soledad ni el silencio
ni el desierto podrían
evitar que yo tocase la cumbre 
de la montaña.

Noventa años no es sólo un tiempo.
Es una inusual geografía.

Hay un solo viaje: el del origen,
y mi Vale es mi piel,
y mi Vale es mi vida.

Traducción: Ronaldo Cagiano





ANIVERSÁRIO 

Para Ascendino Leite


Por onde andei,
levei comigo o meu Vale. 

Nem a solidão nem o silêncio 
nem o deserto conseguiram 
evitar que eu tocasse o topo 
da montanha. 

Noventa anos não é apenas um tempo. 
È uma insólita geografia. 
Há uma única viagem: a da origem, 
e meu Vale é a minha pele, 
e meu Vale é a minha vida.









RECUERDO

Te mantengo
como perplejo diamante
que agoniza,
fertilizando, jubiloso, 
lo esmeril de la memoria.

Traducción: Ronaldo Cagiano



LEMBRANÇA 

Conservo-te 
como perplexo diamante 
que agoniza, 
adubando, em júbilo, 
o esmeril da memória. 






Motivos Para Meu Verso

o meu verso fala:
da fábula do perdido
dos que uivam de amor
do vento da nuvem do medo
dos rascunhos da mosca, da caligrafia,
de tudo que apenas se esboçou.

fala da ferrugem
que habita o lixo dos quintais
dos sapatos expostos ao tempo
do lodo que escorre da noite
da carie, da calvície
de tudo que não existe mais

queria por no meu verso:
em lugar da rima a ruga
o funeral das formigas
o pavor dos besouros sob o sol
restos de coisas, restos de nada,réstias,
nonadas

por um pouco:
do carteiro
do garçon
do alfaiate
do livreiro

pedaços de gilete
alfinetes lâmpadas queimadas
livros riscados pregos
pinças o fútil o inútil
o dúctil

e fazê-lo abrigo
para o pote
o pente a tesoura
o nariz de Adélia
os dentes de Fidélia

o meu verso guarda
um cariri na memória
de tanto que leu Proust
recorda:
o som do leite quente no tacho
o gosto assustado da goteira
o cheiro das tristezas da terra.






Momento n° 4

Eu sou qualquer coisa de intermédio
entre o câncer eo milagre.
Vezes sou montanha, vezes sou planície,
e não tenho rio nas minhas aldeias.
Entre Europa e África, prefiro o sonho,
que não me levara a lugar nenhum.
Nem mesmo sou o meu torrão natal.
Dizer que sou múltiplo nos lajedos do sonho
também não me retrata. Eu sou aquele
que não poderá ser: pedras e plumas,
isto e aquilo, e, enquanto sonho,
vive o mundo a luxúria das águas. 

(Poemas extraídos de "O Livro da Agonia – e outros poemas")






Cata-vento e Juazeiro

Na minha vida existe um Cata-vento
solitário nas léguas da fazenda.
Cata-vento que ao sonho dava alento,
quando o sonho se fazia minha tenda.

Na minha vida existe um Juazeiro
à sombra da infância nos currais.
Juazeiro plantado no terreiro,
no terreiro da gleba de meus pais.

Do Cata-vento aprendi a melodia
agreste destas nuvens andarilhas
e a geografia azul d’outra viagem.

Do Juazeiro e sua verde fantasia,
ao sol multiplicada em tantas trilhas,
para sempre guardei a sua imagem.






Umbuzeiro

Não existe fotografia mais bela
que o verde Umbuzeiro na Caatinga,
estrumada pelo vinho da neblina,
a compor a mais vívida aquarela.

Não é somente bela, é muito estranha
sua sombra espalhada sob o Sol
como garras de negro caracol
que nos músculos da Terra se entranha.

Sua folhagem à fornalha resiste,
quando a seca, com seu manto triste,
cobre de luto as luas da estiagem.

Resiste o caule, as raízes, o fruto
do velho Umbuzeiro em seu talhe bruto,
solitário verdume na paisagem.






Vaqueiro

Vem, Vaqueiro, aboiando com a voz
dos bogaris beijados pelo vento,
do espanto dos novilhos ao relento
no dossel da noite sob o avelós.
Vem, Vaqueiro, vem aboiar meu sonho,
tangê-lo pelas vazantes da Vida,
a Vida, sempre uma imagem perseguida
pela trama do verso mais bisonho.
Vem, Vaqueiro, a memória cavalgando
entre os corcéis velozes do passado
de agreste meninice em meio ao gado
que no sonho ´inda ´stou pastoreando.
Vem, Vaqueiro, aboiar a minha sorte
antes que me levem os bois da Morte.






A Morte

A Morte vem, já escuto o seu trote
seco e já vislumbro os seus carneiros
pelos rastros da noite, no nevoeiro.
A Morte vem, esquálida, impudica,
com seu vinho azedo, sua gosma
lânguida e seus lívidos punhais,
seus lúridos penedos. A Morte vem,
com seus torpes tentáculos devorando
os bichos com seu degredo. E vem,
com seus arreios de égua arcaica e torta
galopando os ossos do seu segredo.
A Morte vem, já escuto seus desertos
Passos, mas não tenho medo: a Morte


É apenas a névoa batendo no rochedo.

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