António Jacinto do Amaral Martins (1924-1991) nació en Luanda, Angola. Debido a su militancia anticolonialista, las autoridades portuguesas lo encarcelaron en 1960. En 1972 fue transferido a Lisboa donde obtuvo la libertad condicional, y en 1973 escapó para unirse al Movimiento Popular para la Liberación de Angola.
Declarada la independencia en 1975, se desmpeñó como Ministro de Educación y Cultura.
Obras: Poemas (1961), Abuelo Bartolomé (1979), Sobrevivir en Tarrafal de Santiago (1985), Fábulas de Sanji (1988).
MONANGAMBA
(«Hijos de Gambia»)
En la gran hacienda no cae la lluvia,
es el sudor de mi frente el que riega los sembradíos.
En la gran hacienda el café está maduro
y ese color rojizo
son gotas de mi sangre convertidas en savia.
El café será torrado,
molido, triturado,
se volverá negro, negro del color del jornalero.
¡Negro del color del jornalero!
Pregunten a las aves que cantan,
a los arroyos que serpentean alegres
y al viento fuerte del sertón:
¿Quién se levanta temprano? ¿Quién va a los surcos?
¿Quién carga por los largos caminos
la tipóia*
o los racimos de palmera?
¿Quién cosecha y en pago recibe desprecio,
harina podrida, pescado podrido,
ropa andrajosa, unas pocas monedas,
y golpes cuando reclama?
¿Quién?
¿Quién hace crecer el maíz
y florecer los naranjos?
¿Quién?
¿Quién produce el dinero para que el patrón
compre maquinaria, autos, mujeres,
y negros para sus máquinas?
¿Quién hace que el blanco prospere,
tener una gran barriga, tener dinero?
¿Quién?
Y las aves que cantan
y los arroyos que serpentean alegres
y el viento fuerte del sertón
responderán:
–Monangambééé...
Ah! Déjenme al menos trepar a las palmeras,
déjenme beber vino, vino de palma
y olvidar sumido en mi borrachera
–Monangambééé...
Tipóia: especie de silla en la que los esclavos conducían al patrón blanco.
Selección, compilación y notas:
Jorge Brega
Jorge Brega
Monangamba
Naquela roça grande não tem chuva
é o suor do meu rosto que rega as plantações:
Naquela roca grande tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue feitas seiva.
O café vai ser torrado
pisado, torturado,
vai ficar negro, negro da cor do contratado.
Negro da cor do contratado!
Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:
Quem se levanta cedo? Quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
"porrada se refilares"?
Quem?
Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer
Quem?
Quem dá dinheiro para o patrão comprar
maquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?
Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grande - ter dinheiro?
Quem?
E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:
"Monangambééé..."
Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo, maruvo
e esquecer diluído nas minhas bebedeiras
"Monangambééé..."
Vadiagem
Naquela hora já noite
quando o vento nos traz mistérios a desvendar
musseque em fora fui passear as loucuras
com os rapazes das ilhas:
Uma viola a tocar
o Chico a cantar
(que bem que canta o Chico!)
e a noite quebrada na luz das nossas vozes
Vieram também, vieram também
cheirando a flor de mato
- cheiro grávido de terra fértil -
as moças das ilhas
sangue moço aquecendo
a Bebiana, a Teresa, a Carminda, a Maria.
Uma viola a tocar
o Chico a cantar
a vida aquecida com o sol esquecido
a noite é caminho
caminho, caminho, tudo caminho serenamente negro
sangue fervendo
cheiro bom a flor de mato
a Maria a dançar
(que bem que dança remexendo as ancas!)
E eu a querer, a querer a Maria
e ela sem se dar
Vozes dolentes no ar
a esconder os punhos cerrados
alegria nas cordas da viola
alegria nas cordas da garganta
e os anseios libertados
das cordas de nos amordaçar
Lua morna a cantar com a gente
as estrelas se namorando sem romantismo
na praia da Boavista
o mar ronronante a nos incitar
Todos cantando certezas
a Maria a bailar se aproximando
sangue a pulsar
sangue a pulsar
mocidade correndo
a vida
peito com peito
beijos e beijos
as vozes cada vez mais bebadas de liberdade
a Maria se chegando
a Maria se entregando
Uma viola a tocar
e a noite quebrada na luz do nosso amor...
Carta de um contratado
Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta que dissesse
deste anseio
de te ver
deste receio
de te perder
deste mais bem querer que sinto
deste mal indefinido que me persegue
desta saudade a que vivo todo entregue...
Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta de confidências íntimas,
uma carta de lembranças de ti,
de ti
dos teus lábios vermelhos como tacula
dos teus cabelos negros como dilôa
dos teus olhos doces como maboque
do teu andar de onça
e dos teus carinhos
que maiores não encontrei por aí...
Eu queria escrever-te uma carta
amor,
que recordasse nossos tempos a capopa
nossas noites perdidas no capim
que recordasse a sombra que nos caía dos jambos
o luar que se coava das palmeiras sem fim
que recordasse a loucura
da nossa paixão
e a amargura da nossa separação...
Eu queria escrever-te uma carta
amor,
que a não lesses sem suspirar
que a escondesses de papai Bombo
que a sonegasses a mamãe Kieza
que a relesses sem a frieza
do esquecimento
uma carta que em todo o Kilombo
outra a ela não tivesse merecimento...
Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta que ta levasse o vento que passa
uma carta que os cajús e cafeeiros
que as hienas e palancas
que os jacarés e bagres
pudessem entender
para que o vento a perdesse no caminho
os bichos e plantas
compadecidos de nosso pungente sofrer
de canto em canto
de lamento em lamento
de farfalhar em farfalhar
te levassem puras e quentes
as palavras ardentes
as palavras magoadas da minha carta
que eu queria escrever-te amor....
Eu queria escrever-te uma carta...
Mas ah meu amor, eu não sei compreender
por que é, por que é, por que é, meu bem
que tu não sabes ler
e eu - Oh! Desespero! - não sei escrever também
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