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sábado, 10 de noviembre de 2012

ALBERTO DA CUNHA MELO [8482]





ALBERTO DA CUNHA MELO 
Alberto da Cunha Melo, cuyo nombre completo era José Alberto Tavares da Cunha Melo (Guararapes Jaboatão , 08 de abril de 1942 - Recife , 13 de octubre de 2007 ) fue un poeta, escritor, periodista y sociólogo brasileño .

Libros:

Círculo Cósmico. Recife: UFPE, separata da revista Estudos Universitários, 1966.
Oração pelo Poema. Recife: UFPE, separata da revista Estudos Universitários, 1969.
Publicação do Corpo. In: Quíntuplo. Recife: Aquário/UM, 1974.
A Noite da Longa Aprendizagem. Notas a Margem do Trabalho Poético. Recife: 1978-2000. v. I, II, III, IV, V (inédito).
Dez Poemas Políticos. Recife: Pirata, 1979.
Dez Poemas Políticos. Recife: Pirata, 1979 (segundo clichê).
Noticiário. Recife: Pirata, 1979.
Poemas a Mão Livre. Recife: Pirata, 1981.
Soma dos Sumos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1983.
Poemas Anteriores. Recife: Bagaço, 1989.
Clau. Recife: Imprensa Universitária da UFRPE, 1992.
A Rural também Ensina a Semear a Poesia. Recife: Livro 7, 1992 (folheto de cordel – divulgação do lançamento do livro Clau).
Carne de Terceira com Poemas à Mão Livre. Recife: Bagaço, 1996.
Yacala. Recife: Gráfica Olinda, 1999.
Yacala. Natal: EDUFRN, 2000 (edição fac-similar, prefácio de Alfredo Bosi).
Meditação sob os Lajedos. Natal/Recife: EDUFRN, 2002.
Dois caminhos e uma oração. São Paulo: A Girafa, 2003.
O cão de olhos amarelos & Outros poemas inéditos. São Paulo: A Girafa, 2006.
Marco Zero: Crônica. Recife: CEPE, 2009.
Cantos de Contar: Recife: Grupo Paés Editora, 2012. Edição comemorativa dos 70 anos do poeta.






RELOJ DE PUNTO

Todo lo que tomamos en serio
se torna amargo. Así los juegos,
la poesía, todos los pájaros,
más que todo: todo el amor.

De vez en cuando faltaremos
a algún compromiso en la tierra,
y atravesaremos los surcos
llenos de arena, después de las lluvias.

Si alguna súbita alegría
retarda nuestro regreso,
un inesperado compañero
marcará nuestra tarjeta.

Todo lo que tomamos a serio
se torna amargo. Así las fajas
de la victoria, la propia victoria,
más que todo: el propio cielo.

De vez en cuando faltaremos
a algún compromiso en la tierra,
y llevaremos las pupilas
ciegas como el barniz de las estrellas.





EL HOMBRE DE GOMA

Yo golpeaba en mi infancia
doce puertas atrás de mí,
y el hombre de goma pasaba
por el ojo de la cerradura.

Por todo lado aparecía
el detective sin sombrero,
y utilizaba una gotera
como la lluvia, para alcanzarme.

En caso que yo muriera y el quisiese
un niño ya sepultado,
llegaría al pequeño cuerpo
por un agujero de hormiga.

Me ocultaba y, en el verano
resurgían los compañeros
de uniforme azul, que me llamaban
el tiempo entero desde el jardín.

Cuando un día huí de mi casa,
como la esperanza, él estiró
el brazo fino para mí
y me contuvo en el horizonte.





PLATAFORMA

Algún amigo, tal vez el único
aconsejará el combate
cambie de amigo si no puede
mas, nunca más, cambie de vida.

De la amada ni se habla, todo
que ella desea es para sí:
cambie de amada si no puede
mas, nunca más, cambie de vida.

La poesía no es más hecha
de agua, de colirio indulgente:
cambie de verso si no puede
mas, nunca más, cambie de vida.

Enfrente del naciente se alquilan
espacios claros y golondrinas:
cambie de casa si no puede
mas, nunca más, cambie de vida.

Una tercera parte de los ángeles
ya visten túnicas rojas:
cambie de ropa si no puede
mas, nunca más, cambie de vida.





CANTO DE LOS EMIGRANTES

Con sus pájaros
o el recuerdo de sus pájaros,
con sus hijos
o el recuerdo de sus hijos,
con su pueblo
o el recuerdo de su pueblo,
todos emigran.

De una cuadra a otra
del tiempo,
de una playa a otra
del Atlántico,
de una sierra a otra
de las cordilleras,
todos emigran.

Para el cuerpo de Berenice
o el corazón de Wall Street,
para el último templo,
para la primera dosis de tóxico,
para dentro de sí
o para todos, para siempre
todos emigran.

Traducción: Héctor Pellizzi


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NUM ESCRITÓRIO DA MESBLA

Quando muito, nos permitiam
ouvir um assovio de fora
mas não podíamos voltar
para um lado nossas cabeças.

Na grande sala não havia
um só momento em que tivéssemos
dolorosa oportunidade
de comparar os nossos rostos.

Um de nós ocultava sempre
um livro escuro na gaveta,
e o consultava nos instantes
em que devia descansar.

Outro, numa mesa afastada,
(menos erudito e mais triste)
colecionava no intervalo
selos de países distantes.

No escritório, só raramente,
íamos contemplar na parede
o gado manso que partia
na paisagem do calendário.






CASA VAZIA

Poema nenhum, nunca mais,
será um acontecimento:
escrevemos cada vez mais
para um mundo cada vez menos,

para esse público dos ermos
composto apenas de nós mesmos,

uns joões batistas a pregar
para as dobras de suas túnicas
seu deserto particular,

ou cães latindo, noite e dia,
dentro de uma casa vazia.







ORAÇÃO PELO POEMA

A cem quilômetros por hora,
solto a direção do automóvel,
para escrever alguma coisa
mais urgente que minha vida.

Devo portanto utilizar
o vocabulário econômico
do Século: é proibido
amar, fumar, pisar na grama.

Mas gostaria que restasse
algum tempo para dizer
no poema as palavras súbitas
de recompensa e remissão.

Ó meu Deus, eu quero escrever
a minha vida, não teu Céu.
Eu estou só e enlouquecido
como as ovelhas mais longínquas.

Dá pelo menos a esperança
de terminar o doloroso
poema. Dá isso a teu filho,
caído, e coberto de sal.




CANTO DOS EMIGRANTES

Com seus pássaros
ou a lembrança de seus pássaros,
com seus filhos             
ou a lembrança de seus filhos,
com seu povo
ou a lembrança de seu povo,
todos emigram.

De uma quadra a outra
do tempo,
de uma praia a outra
do Atlântico,
de uma serra a outra
das cordilheiras,
todos emigram.

Para o corpo de Berenice
ou o coração de Wall Street,
para o último templo
ou a primeira dose de tóxico, 
para dentro de si
ou para todos, para sempre
todos emigram.







DUAL

Epígrafe um

“portanto meus irmãos, temos uma obrigação, que é a de não viver de acordo com a nossa natureza humana”. (Romanos, 8.12).


Epígrafe dois

“O homem que quisesse viver em sabedoria e paz deveria adaptar-se à augusta ordem dos fenômenos da natureza e viver na natureza com a natureza”.  (Lao-Tsé)



MORTO PELA SEGURANÇA

a hemorragia interna,
que enverniza por dentro,
inferniza por dentro
a palavra estado;
e pela insegurança
de comprar na esquina,
a estas horas da noite,
uma ampola de coramina;





MORTO POR ESPARTA

enquanto os negócios prosperam
e a terra enche-se de estranhos;
e por Atenas
a cometer o engano
de cantar tão longe
de seus arsenais;




MORTO PELO OCIDENTE

onde pôneis e jatos
só nos tomos da lei
conseguem chegar juntos
ao Banco Mundial;
e, pelo Oriente,
onde os bancos já chegaram;




MORTO PELO MUITO

o mais, o mosto,
o gás de uma montanha
de laranjas apodrecidas;
e pelo pouco,
o bago disputado
em soluços nos calabouços;
        



MORTO PELA PAZ

um branca de merda
com seus sete canhões
apontando meus laranjais;
e pela guerra que,
para destruir-nos,
não precisa estourar mais;





MORTO PELA TRISTEZA

esse modo de as margaridas
me pedirem socorro;
e pela alegria,
tão fora-da-lei:
camponesa na sala
do General-Comandante;





MORTO PELO TEMPORAL

ou seja:  o “se Deus quiser”,
o “volto amanhã”,
o “cuide dos meninos”;
e pelo eterno,
que não data as cartas,
atravessa ileso as eleições de
                                           novembro
e não toma conhaques contra o
                                             inverno;





MORTO PELA UNIDADE

que reúne
todos os alvos em um céu
e dá precisão ao meu tiro;
e pela multiplicidade,
que me parte em pedaços
fáceis de controlar
pelos deuses descalços;




MORTO PELO ESPÍRITO

mero gás que retorna
à garrafa de coca
e procura explodi-la;
e, pela matéria,
tão órfã de síntese
quanto as moças de vinte
depilando seus pêlos
nos subúrbios da ordem;





MORTO PELO RACIONAL

sob as medalhas dos técnicos
e as migalhas do povo;
e pelo intuitivo,
o imediato
e ingente sentir
não digital;






MORTO PELO SONHO

essa floresta afogada
nas folhas caídas;
e pela realidade,
onde os enfermos estouram
os tumores do visitantes;





MORTO PELO NECESSÁRIO

a condenação à luz
que enlouquece uma estrela;
e pelo acaso,
o tropeçar nos alarmes
e o esmagar as rãs
que circundam o cárcere;



       

MORTO PELO MAL

algo parecido
com carne liberada
ou Santa Tereza anunciando
maiôs Poésie na TV;
e, pelo bem,
algo mais metafísico,
mais Jesus de prata
escondido na blusa.





MORTO PELO LAR

que desaba todo dia
sem ninguém escutar;
e pelo bar,
onde o heroísmo se condensa
num laudo rotineiro
da polícia, ao passar;





MORTO PELA FÊMEA

que me pede um jantar
e uma boa lembrança
e talvez peça muito;
e, pela outra
que me pede a eternidade
e talvez peça nada;





MORTO PELA HONRA

quando as fezes dos pobres
ameaçam o fulgor
do brasão tumular;
e pela desonra
dos que mudam tarde,
quando os linchadores
ávidos não sabem
por onde começar;





MORTO PELA SOBRIEDADE

este assistir a seco
à própria extinção;
e pela embriaguez,
este banhar-se à noite
em doce uréia
ou receber sob o lençol
o coice de medeia;





MORTO PELA FALA

escada que sai da boca
e deixa subir os demônios;
e pelo silêncio,
inseticida queimando
no fundo do quarto
para afastar um remorso;



        

MORTO PELA NORMA

abutre que aqueço
à temperatura do corpo;
e pelo instinto,
bomba de efeito retardado
sob o monte antigo
de brinquedos de barro;





MORTO PELA VIRTUDE

essa tanga de velha
e desgastada platina;
e pelo pecado,
a notícia da única
e inexplicável
humildade de Deus;





MORTO PELO ÉTICO

mais Ártico pelos ursos
mais Antárticos
e pelo estético dos cursos
majestáticos;



                

MORTO PELOS MORTOS.

Entrei na revoada dos poetas por uma espécie de determinismo cultural. Meu pai, Benedito Cunha Melo, era algo como um decano dos poetas de Jaboatão-PE. Corriam para ele os candidatos a poeta, com seus sonetos imberbes. Ouvia, sem querer - e às vezes querendo - o velho a ler para os amigos na sala a obra de Cruz e Souza, sua maior admiração brasileira. Ouvia-o declamando sozinho, em voz alta, o "Navio Negreiro" de Castro Alves. Depois, no colégio, lá estava eu enturmado com colegas que gostavam de literatura. Fui, de certa forma, amamentado pela poesia, sugando esse leite envenenado pela angústia do infinito.

Alberto da Cunha Melo

(em entrevista ao jornal O Galo - Natal - RN - Janeiro/2000)




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