João Miguel Fernandes Jorge
João Miguel Fernandes Jorge (Bombarral, Portugal 1943), es un escritor y poeta portugués
Licenciado en Historia y Filosofía.
Obra:
Uma Exposição. (Conjunto de poemas e fotografias) obra em parceria com Jorge Molder e Joaquim Manuel Magalhães
A Flor da Rosa - 2000
A Gravata Ensanguentada - cop. 2006
LA LENGUA PORTUGUESA ES UN PRODUCTO DINÁSTICO
Nos encontramos ese verano en Alcobaça. “En el
brazo sur del transepto”, le dije por carta. Cuando
llegué al túmulo de D. Pedro lo vi precisamente
en el lado norte, junto al túmulo de Inés, cifrando el
misterio de la esencia y de los arquetipos de la teología
negativa en la figuración de los seres híbridos a que se
asocia el castigo de sus asesinos. Sabía que tales serían
los pasos que seguiría dentro del monasterio. Justo los opuestos
a los míos, que siempre entro por la nave lateral sur para
detenerme en la iconografía de San Bartolomé, patrón
de los epilépticos y de los poseídos de tartamudez como el
rey Pedro. Pero Gusmão prefería los muertos
saliendo de las arcas tumulares. Ese fin de agosto
él vino de Évora de Alcobaça y de los confines del término
de Óbidos. Los días del pasado frente a nosotros bajo
la gran nave. Alguien dejó encendida una mínima vela,
ennegrecida de luz, sobre las losas de la Casa del Capítulo.
Una sombra desciende de aquellas vidas sobre otras vidas de
amor futuro. Es casi lo mismo, conversar con los siglos
pasados y viajar: la carretera, entre dunas y pinares,
desemboca en el mar.
EL HALCÓN DE BRONCE
Ahora
me elevas a los límites de tu vuelo
sobre el abismo dorado del mar
por montañas y oscuros valles de
ruina
suspendes el vuelo junto a la noche
donde el agua de un río dilacera el clamor
de la naturaleza.
Ahora
debo ocultarme en la sombra
y ser para siempre tu cazador.
La casa está vacía.
Llévame a las desiertas rocas, halcón – agua
de la vida.
(De Sobre mármore; traducción: Luis María Marina)
No Dia que para Sempre Separámos do Corpo
No dia que para sempre separámos do corpo,
havia nesse dia sobre o livro de gravuras
um insecto com os breves sinais de uma aranha.
Esperávamos um recado que se fez esperar e
tinha as mãos no rosto e fora meu.
A medo a dor para onde não sei bem levava a dor
o rosto.
Havia tudo um pouco misturado. Antigas cartas
velhos poemas.
Até do outro lado da janela víamos tristes
tristes rapazes jogando a bola,
corpo jogado sob o vento de abril e o de
março.
Dentro do quadro via a camisola de lã branca
e o que de loiro havia do recente sol
via a dor o recado desejado no negro azul
das aves.
Sobre o céu, o mar, esse tinha-lo agora nos novos
olhos.
in "Continentes e Desertos"
Acto ou qualquer outra Coisa
Acto ou qualquer outra coisa. Eu sei, aquela mulher
tão tranquila
vendo da janela do quarto o porto
vendo dos barcos o fumo rente aos mastros
eu sei
essa mulher bem podia ter o nome quando
por detrás da janela observa
outras coisas que não são barcos e mastros.
Talvez os homenzinhos de azul despertem seus desejos
ou só o azul desbotado, mas não
não nessa janela nesse porto de cidade que não sei
e ela sabe
envolta no vestido, ruivo o cabelo,
envolta nas madeiras da portada.
O chão deve ranger sob os seus pés.
in "Continentes e Desertos"
Reduzir a Dependência das Coisas
Tudo consiste em reduzir a dependência das coisas.
Partes amanhã. Não mais nos veremos. Um pouco o
desertor a cada passagem da nossa alma ou
quem espera para morrer.
A aquisição de todos estes bens
as espécies de tristeza são o que
acompanha quem espera — quais as pretendidas
vantagens? a juventude ou o mar?
Que te importa o que posso ou não fazer? Se
estamos tão perto quando nas ruas cruzamos e dizemos
o herói de toda a circunstância — a tua vida
precede a minha a tua morte ao abrigo das paixões
mas nada disto é dito
animal que repousa sob o erro.
Pela última vez
põe os teus sapatos novos
tão contrários à fonte dos actos e à moral
e vem, mesmo que tenhas andado para lá do som,
lavadinho, para que eu possa passar a minha mão
pelo pêlo
pelo pêlo lugar também do saber e de toda a possessão.
in "Direito de Mentir"
Como Podemos Esperar
Como podemos esperar.
Aguardar o que nossas mãos possam reter.
Uma palavra. O olhar cúmplice. Se as coisas
têm já o estado do vento
o que nas ruas fica das vozes ao fim do dia.
Aguardar mais aguardar nada
quanto mais se repete uma palavra
«estou sentado virado para a parede desta casa»
baixo, mais baixo ainda,
«estou sentado virado para a parede desta casa».
Fazer que não haja sucedido o sucedido.
O prazer de sentir chegar as coisas
o riso sob a chuva
o frio que faz. Aqui
como podemos esperar uma noite de lua e vento?
in "Direito de Mentir"
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