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miércoles, 5 de junio de 2013

RUY DUARTE DE CARVALHO [10.047]


Ruy Duarte de Carvalho 
(Santarém, 1941 - Swakopmund,   2010) fue un poeta, escritor, cineasta y antropólogo angoleño.
Portugués de nacimiento, pasó su infancia en Moçâmedes hoy Namibe, volviendo a Santarém en 1955. 
En 1971 se embarcó para Lourenço Marques, donde fue jefe de producción en la fábrica de cerveza. En 1972 parte para Londres con el fin de estudiar dirección de cine. Volvió para ser admitido en la Televisión Popular de Angola, como director. 
Adquirió la nacionalidad de Angola en 1983, de nuevo salió de la ex colonia para su doctorado en antropología en la École des Hautes Études en Sciences Sociales de París. También enseñó como profesor visitante en la Universidad de Coimbra y de la Universidad de São Paulo, en Brasil. 
En el momento de su muerte residía en Swakopmund , en Namibia .


POESÍA:

Chão de Oferta, Luanda, Culturang,
1976 A Decisão da Idade, Luanda/ Lisboa, UEA/ Sá da Costa Editora
1978 Exercícios de Crueldade,Lisboa, “e Etc.”
1980 Sinais Misteriosos... Já se Vê..., Luanda/ Lisboa, UEA/ Edições 70
1982 Ondula,Savana Branca, Luanda/ Lisboa, UEA/ Sá da Costa Editora
1987 Lavra Paralela, Luanda, UEA
1988 Hábito da Terra, Luanda, UEA
1992 Memória de Tanta Guerra, Lisboa, Editora Vega
1997 Ordem de Esquecimento, Lisboa, Quetzal Editores
2000 Lavra Reiterada, Luanda, Edições Nzila
2000 Observação Directa, Lisboa, Livros Cotovia
2005 Lavra (poesia reunida 1972-2000), Lisboa, Livros Cotovia

NARRATIVA:

1999 Vou lá visitar pastores, Lisboa, Livros Cotovia
2003 Actas da Maianga, Lisboa, Livros Cotovia
2007 Desmedida, Luanda - São Paulo - São Francisco e Volta, Lisboa, Livros Cotovia

FICCIÖN:

Como se o Mundo não Tivesse Leste, contos, Luanda/ Porto, UEA/ Limiar
2000 Os Papéis do Inglês, Lisboa, Livros Cotovia
2005 As paisagens Propícias, Lisboa, Livros Cotovia
2009 A Terceira Metade


Filmografía:

1976 - Uma Festa para Viver, 40', p/b, 16mm, TPA
1976 - Angola 76, É a Vez da Voz do Povo (série de 3 documentários, 100', p/b, 16 mm, TPA
1976 - Faz Lá Coragem, Camarada, 12O', p/b, 16 mm, TPA- O Deserto e os Mucubais, 2O', p/b, 16mm, TPA
1979 - Presente Angolano, Tempo Mumuíla (série de 10 documentários, cerca de 6 horas, p/be cor, 16 mm, TPA)
1982 - O Balanço do Tempo na Cena de Angola, 45', cor, 16 mm, IAC
1982 - Nelisita, 7O', p/b, 16 mm, IAC
1986 – Videocarta para o meu irmão Antoninho. 40', cor, video, Maritimo futebol clube da Samba.
1989 - O Recado das Ilhas, 90', cor, 35 mm, Madragoa Filmes / Gemini Films



Llagas de salitre


Mírame este país desmoronándose
en llagas de salitre
y los muros, negros, de los fuertes
roídos por el vegetar
de la orina y el sudor
de la carne virgen mandada
a cavar glorias y grandeza
del otro lado del mar.

Mírame la historia de un país perdido:
mareas descendentes de gente amordazada,
la ingenua tolerancia aprovechada
en carne. Pregunta al mar,
que es manso y acaricia aún
la misma vieja costa erosionada.

Mírame las brutas construcciones cuadradas:
embarcaderos, depósitos de gente.
Mírame los ríos renovados de cadáveres,
los ríos turbios del espeso deslizar
de los brazos y de las madres de mi país.

Mírame las iglesias restauradas
sobre ruinas de la propagada fe:
paredes blancas de un urgente brío
escondiendo hierros para educar gentío.

Mírame la noche heredada, en estos ojos
de un pueblo condenado a amasarte el pan.

Mírame, amor, atenta podrás ver
una historia de piedra construyéndose
sobre una historia muerta que se desmorona
en llagas de salitre.

(De A decisao da idade, Sá da Costa, 1977)
Trad.: Luis María Marina








DlOGO CÃO ÀS PORTAS DO ZAIRE

Deste lado da história
o rio morre aqui.
Do mar sabemos nos e aos capitães
a fama da conquista.

Faço-me ao Sul
porque pertenço ao Norte
e a costa s6 me serve p'ra cumprir
tarefas de abandono.

Meu fim é circular, ir mais além.
Por isso eu sei de estrelas
direções
e nada sei do fruto
que se projecta e espera.

Cumpro tarefas, sim, porque viajo.
Assim nasci
sabendo o que me aguarda apos a descoberta.
Fronteiras
só conheço as do meu lar
e sei amá-lo, só,
noutras distâncias.

De Deus, empreendi que mora aqui no mar,
porque sou eu
quem lhe constrói a face.

Ao Rei e a Vos
apenas dou notícia do rumo horizontal.

Pois que sabeis da vertical sagueza?

*

Sei medir hoje, enfim, com muito mais rigor, a força da distância.
Sei decompô-la em tempo, espaço, velocidade e som.

Revendo-te, sereno, é de tal forma denso o teu volume
e natural o teu contorno exacto e fino
que dir-se-ia não haver sequer
um tempo em que me fiz a recordar-te.
Entre os pólos da distância retenho tão-somente a ponte,
quero dizer, a velocidade.
Das viagens não conservo uma noção que exceda um breve
sono, sonho, lapso de altura, vertical perfil.

Vou arriscar uma noção de ausência a elaborar humilde
na hora
do encontro/reencontro.
Imponho a tela crua que teci distante
(e que transporto do país do sono)
a forma testemunho da memória.
A minha percepção faz-se madura.

Retenho a sombra, apenas, do que — revisto ou novo —
adrega preservar a virgindade
e a febre do contorno a sua audácia.
Renovo a nitidez das referências.

A vaga geografia das ausências imponho uma paisagem
reassumida, renovada de ardor e nitidez amável.

Adquiro assim um depurado entendimento do que é posse.

Tenho também que o meu crescer se faz
de cinza acumulada pelos regressos —

uma brancura donde emerge opaca
a medular estrutura da paisagem.

Não nos separa espaço, nem distância ou tempo.
Entre nos dois
apenas o painel da mais recente ausência
aberto para os sinais
do encontro a conquistar.
Não mais do que a distância de um parágrafo.

E a ponte, a velocidade.






PRIMEIRA PROPOSTA PARA UMA NOÇÃO GEOGRÁFICA  
solo — pastor

Sou testemunho da noção geográfica
que identifica as quatro direções
do sol as muitas mais que o homem tem.
Sou mensageiro das identidades
de que se forja a fala do silêncio.
Habito um continente e a comunhão prevista
além dos horizontes por transpor.
Renovo-me em saber, olhando o sol
acesa a cor para além destas fronteiras.

E se me ocorre o mar e me detenho
a frente dos meus gados indefesos
eu saberei da costa o quanto me prolonga
além das águas e dos meus recursos.
Olhando o mar eu sei que no temor
vivo em meu sangue, ardente e tão pesado
que há-de acorrer ao sangue de meus filhos
se deposita a mágoa antiga já
em que fermento a raiva e o vigor
para conquistar o mar e devolver
a cor o seu sentido e a dignidade.
Circulo a plataforma das viagens
para inventar as direções do mar
além de estéreis nuvens.
Um chão propício para erguer o encontro
entre o destino e o corpo.

Se as minhas mãos se tingem de vermelho, ao norte
e eu todavia me reservo ao sul
porque da terra quero a superfície plana

e a natureza vítrea do seu rosto
e a dádiva frugal de quanto a terra da
sem que lhe fira o ventre
eu digo —
a terra toda, a terra, a funda terra...
e uma noção mais vasta me sugere
a extrema dimensão do continente
e a comunhão de muitas outras vozes
vertendo o mesmo som no vão da noite.
E a forma de dois pés e o pó que os cerca
as mesmas latitudes para um só pisar
em cor de pés e pó omnipresente.

Habito o cheiro e quantas coisas simples
me fazem merecer o pó pisado.

E se eu falar de exílios mergulhado em dambas
ou penetrar florestas de umidade alheia
ou me dessedentar em águas que me expulsem
por lhes negar respeito e vê-las fáceis
ainda assim recordarei montanhas
quando a manha me recordar cacimbos
e saberei que estas imagens novas
por serem espelho de outras me pertencem
como se vê-las fosse a minha origem.

Nem tanto a voz cativa de um lugar
nem a função contida pela herança
nem a ciência exacta de um relevo.

Habito um corpo móvel de paisagens
protegidas por clareiras de fartura.
Habito o movimento e a minha pátria
é todo o continente de que não sei o fim.

Irei tão longe quanta for a sede e a urgência da mudança.
Cruzar-me-ei com as nuvens de outros corpos
movidos por idêntica voragem.
A diástole da vida me governa.
Atingirei o extremo norte
se a tanto me levar
o corpo fustigado pela carência das águas.

Habito as fontes todas do deserto
e obedeço ao vento, ao sol, as luas da verdura.
E nada me detém se a sede anima
o sangue aceso deste corpo enxuto.

Devasso a região dos Grandes Lagos
e as baixas pantanosas de Okavango.
Bordejo os areais da suave brisa:
Chaibi, Namibe, Kalaari
a estepe do Masai, montes do Karoo
que é onde a planta luta por florir
e aguarda paciente a gota de água.
Mergulho na garganta de Olduvai
e calco em meu andar
os fósseis mais remotos
argamassada em pedras a grandeza
da inusitada fúria que transforma
a mão em arma e os olhos em zagaias.

Repouso nas ruínas de Ashanti
nas construções ciosas do Benim
nas alas circulares do Zimbabwe:
adormeço vertido no regaço
do odor antigo do poder vencido
e na serena placidez do tempo.

Monomotapa, Ghana, Luba
reinos, impérios, fundadores de impérios.
Cavaleiros de Kanem-Bornu
mercadores de Kano, Zaria e Nok
profetas do Congo
muquixis da Lunda
adoradores do ferro:
Ashanti, Ibos
sentinelas dos rios:
Núbios, Kikuios
sóbrios amantes do leite:
Masai, Hereros

cultivadores de anharas
caminheiros da estepe
sombras da savana.






YORUBA
(4)

Três amigos eu tinha.

Pediu-me o primeiro
que dormisse na esteira.
Pediu-me o segundo
que dormisse no chão.
Pediu-me o terceiro
para dormir no seu peito.

Cedi a voz do terceiro
e vi-me transportado a um grande rio.

E do rio eu vi o rei
e o rei do sol.

E vi palmeiras
tão carregadas de fruto
que o peso as vergava
e as palmeiras morriam.






ClCLO DO FOGO

Há coisas que se choram muito anteriormente.
Sabe-se então que a história vai mudar.






ABERTURA

Silêncio mas por que e não apenas vento
até que a pedra se arredonde enfim
e a água se expanda
raiada no verde?

Um sono que se estenda obliquamente
entre a murada construção da idade
e as veredas ordenadas pelo passado.

Uma memória a ter-se
mas não aquela que o futuro impeça.

O sal, por toda a parte.
Então pequenos lagos se acrescentam
a partir de alguma fenda original. E são taças de mar
que dão contorno ao continente agreste.




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