viernes, 7 de junio de 2013

ANTÓNIO JACINTO DO AMARAL MARTINS [10.053]



António Jacinto do Amaral Martins (1924-1991) nació en Luanda, Angola. Debido a su militancia anticolonialista, las autoridades portuguesas lo encarcelaron en 1960. En 1972 fue transferido a Lisboa donde obtuvo la libertad condicional, y en 1973 escapó para unirse al Movimiento Popular para la Liberación de Angola. 
Declarada la independencia en 1975, se desmpeñó como Ministro de Educación y Cultura. 

Obras: Poemas (1961), Abuelo Bartolomé (1979), Sobrevivir en Tarrafal de Santiago (1985), Fábulas de Sanji (1988). 




MONANGAMBA

(«Hijos de Gambia»)

En la gran hacienda no cae la lluvia, 
es el sudor de mi frente el que riega los sembradíos.

En la gran hacienda el café está maduro 
y ese color rojizo 
son gotas de mi sangre convertidas en savia. 

El café será torrado,
molido, triturado,
se volverá negro, negro del color del jornalero.

¡Negro del color del jornalero!
Pregunten a las aves que cantan, 
a los arroyos que serpentean alegres 
y al viento fuerte del sertón: 

¿Quién se levanta temprano? ¿Quién va a los surcos? 
¿Quién carga por los largos caminos 
la tipóia*
 o los racimos de palmera? 
¿Quién cosecha y en pago recibe desprecio, 
harina podrida, pescado podrido, 
ropa andrajosa, unas pocas monedas,
y golpes cuando reclama?

¿Quién?

¿Quién hace crecer el maíz 
y florecer los naranjos? 

¿Quién?

¿Quién produce el dinero para que el patrón 
compre maquinaria, autos, mujeres, 
y negros para sus máquinas?
¿Quién hace que el blanco prospere, 
tener una gran barriga, tener dinero? 

¿Quién?

Y las aves que cantan
y los arroyos que serpentean alegres
y el viento fuerte del sertón 
responderán:

–Monangambééé...

Ah! Déjenme al menos trepar a las palmeras, 
déjenme beber vino, vino de palma 
y olvidar sumido en mi borrachera

–Monangambééé...

Tipóia: especie de silla en la que los esclavos conducían al patrón blanco.

Selección, compilación y notas: 

Jorge Brega




Monangamba

Naquela roça grande não tem chuva 
é o suor do meu rosto que rega as plantações:

Naquela roca grande tem café maduro 
e aquele vermelho-cereja 
são gotas do meu sangue feitas seiva.

O café vai ser torrado 
pisado, torturado, 
vai ficar negro, negro da cor do contratado.

Negro da cor do contratado!

Perguntem às aves que cantam, 
aos regatos de alegre serpentear 
e ao vento forte do sertão:

Quem se levanta cedo? Quem vai à tonga? 
Quem traz pela estrada longa 
a tipóia ou o cacho de dendém? 
Quem capina e em paga recebe desdém 
fuba podre, peixe podre, 
panos ruins, cinquenta angolares 
"porrada se refilares"?

Quem?

Quem faz o milho crescer 
e os laranjais florescer

Quem?

Quem dá dinheiro para o patrão comprar 
maquinas, carros, senhoras 
e cabeças de pretos para os motores?

Quem faz o branco prosperar, 
ter barriga grande - ter dinheiro?

Quem?

E as aves que cantam, 
os regatos de alegre serpentear 
e o vento forte do sertão 
responderão:

"Monangambééé..."

Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras 
Deixem-me beber maruvo, maruvo 
e esquecer diluído nas minhas bebedeiras

"Monangambééé..."







Vadiagem

Naquela hora já noite 
quando o vento nos traz mistérios a desvendar 
musseque em fora fui passear as loucuras 
com os rapazes das ilhas: 
Uma viola a tocar 
o Chico a cantar 
(que bem que canta o Chico!)

e a noite quebrada na luz das nossas vozes 
Vieram também, vieram também 
cheirando a flor de mato 
- cheiro grávido de terra fértil - 
as moças das ilhas 
sangue moço aquecendo 
a Bebiana, a Teresa, a Carminda, a Maria. 
Uma viola a tocar 
o Chico a cantar 
a vida aquecida com o sol esquecido 
a noite é caminho 
caminho, caminho, tudo caminho serenamente negro 
sangue fervendo 
cheiro bom a flor de mato 
a Maria a dançar 
(que bem que dança remexendo as ancas!) 
E eu a querer, a querer a Maria 
e ela sem se dar 
Vozes dolentes no ar 
a esconder os punhos cerrados 
alegria nas cordas da viola 
alegria nas cordas da garganta 
e os anseios libertados 
das cordas de nos amordaçar 
Lua morna a cantar com a gente 
as estrelas se namorando sem romantismo 
na praia da Boavista 
o mar ronronante a nos incitar 
Todos cantando certezas 
a Maria a bailar se aproximando 
sangue a pulsar 
sangue a pulsar 
mocidade correndo 
a vida 
peito com peito 
beijos e beijos 
as vozes cada vez mais bebadas de liberdade 
a Maria se chegando 
a Maria se entregando 
Uma viola a tocar 
e a noite quebrada na luz do nosso amor...







Carta de um contratado

Eu queria escrever-te uma carta 
amor, 
uma carta que dissesse 
deste anseio 
de te ver 
deste receio 
de te perder 
deste mais bem querer que sinto 
deste mal indefinido que me persegue 
desta saudade a que vivo todo entregue...

Eu queria escrever-te uma carta 
amor,

uma carta de confidências íntimas, 
uma carta de lembranças de ti, 
de ti 
dos teus lábios vermelhos como tacula 
dos teus cabelos negros como dilôa 
dos teus olhos doces como maboque 
do teu andar de onça 
e dos teus carinhos 
que maiores não encontrei por aí...

Eu queria escrever-te uma carta 
amor, 
que recordasse nossos tempos a capopa 
nossas noites perdidas no capim 
que recordasse a sombra que nos caía dos jambos 
o luar que se coava das palmeiras sem fim 
que recordasse a loucura 
da nossa paixão 
e a amargura da nossa separação...

Eu queria escrever-te uma carta 
amor, 
que a não lesses sem suspirar 
que a escondesses de papai Bombo 
que a sonegasses a mamãe Kieza 
que a relesses sem a frieza 
do esquecimento 
uma carta que em todo o Kilombo 
outra a ela não tivesse merecimento...

Eu queria escrever-te uma carta 
amor, 
uma carta que ta levasse o vento que passa 
uma carta que os cajús e cafeeiros 
que as hienas e palancas 
que os jacarés e bagres 
pudessem entender 
para que o vento a perdesse no caminho 
os bichos e plantas 
compadecidos de nosso pungente sofrer 
de canto em canto 
de lamento em lamento 
de farfalhar em farfalhar 
te levassem puras e quentes 
as palavras ardentes 
as palavras magoadas da minha carta 
que eu queria escrever-te amor....

Eu queria escrever-te uma carta...

Mas ah meu amor, eu não sei compreender 
por que é, por que é, por que é, meu bem 
que tu não sabes ler 
e eu - Oh! Desespero! - não sei escrever também












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